O FENÔMENO DOS ROLEZINHOS
Justiça

O FENÔMENO DOS ROLEZINHOS


ZERO HORA 19 de janeiro de 2014 | N° 17678


EDITORIAL INTERATIVO


Ninguém pode impedir que jovens da periferia frequentem os mesmos locais habitualmente frequentados por consumidores melhor situados na escala social.

As incursões organizadas de jovens de periferia aos shoppings das grandes capitais estão provocando um candente debate nacional sobre temas controversos como limites do direito de manifestação, discriminação social e racial, luta de classes e repressão policial. Os chamados rolezinhos são, antes de tudo, um fenômeno novo gerado pelo poder de mobilização das redes sociais, que guardam algumas semelhanças com os protestos de rua que surpreenderam o país em junho do ano passado. Da mesma forma, envolvem muitas pessoas pacíficas e bem-intencionadas, mas também oportunistas que se escondem na multidão para transgredir.

E é justamente pela sua ambiguidade que o movimento precisa ser tratado com cautela e racionalidade. O país precisa encontrar um caminho de convivência em que todos os direitos sejam respeitados – tanto o de ir e vir, ameaçado pelos defensores da repressão aos jovens, quanto o de desfrutar da ordem pública, garantido a todos os cidadãos.

Os grandes centros de consumo foram idealizados justamente para oferecer conforto e segurança aos frequentadores, independentemente da sua condição social, da cor da pele ou do poder aquisitivo. São espaços privados de uso público, que não podem servir de palco para a segregação nem para a intimidação de ninguém. Ambas as ações são incompatíveis com os direitos humanos e com as garantias individuais asseguradas pela Constituição Brasileira.

Ninguém pode impedir que jovens e adolescentes oriundos da periferia frequentem os mesmos locais habitualmente frequentados por consumidores melhor situados na escala social. Porém, em nome dessa almejada igualdade, não se pode aceitar que grupos de indivíduos promovam desordens, correrias e agressões que possam constranger ou colocar em risco a própria integridade e a de outras pessoas. O temor de arrastões também é compreensível, pois os brasileiros já viram repetidas vezes este filme. Mas nada justifica o preconceito, o cerceamento antecipado e muito menos a repressão violenta e indiscriminada, seja por parte de agentes privados, seja por policiais chamados a intervir.

Condenável mesmo é a politização desse episódio de desfecho imprevisível. Em vez de tentar tirar proveito do fenômeno como alguns já estão fazendo, integrantes do governo e da oposição deveriam dar exemplo de convivência civilizada, debatendo o tema com transparência e buscando soluções negociadas para eventuais impasses.

O Brasil só será um país justo quando o diálogo vencer o medo, o ódio e o preconceito.

O editorial ao lado foi publicado antecipadamente no site de Zero Hora, na quinta-feira, com links para Facebook e Twitter. Os comentários para a edição impressa foram selecionados até as 18h de sexta-feira. A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Editorial diz que rolezinhos têm que ser tratados com diálogo. Você concorda?

O leitor concorda

Não só concordo, como acho essencial. Eu tenho certeza de que, se o diálogo fosse constante na família, esses absurdos não aconteceriam e, se acontecessem, seria em bem menor proporção.

Alda Pegoraro Roeder – Nova Prata (RS)

Esse jovens vão aos shoppings como uma alternativa de lazer, vão para passear e também para consumir, buscam se afirmar através de roupas de grife e participação em espaços públicos. Se fossem jovens brancos da Padre Chagas andando em grupos e fazendo a mesma algazarra, ninguém proibiria a entrada deles! Como classificam um rolé? Pela quantidade de pessoas? Pela cor da pele? Pelas roupas? Francamente, isso está tomando proporções absurdas!

Laila Silveira – Porto Alegre (RS)

O diálogo é sempre produtivo e indutor de soluções.

O leitor discorda

Não concordo porque os pivetes que o fazem não dialogam com ninguém para fazer suas badernas

Arnaldo de Lima Novaes – Pelotas (RS)

O rolezinho extrapola as normas de segurança estabelecidas para um ambiente fechado, tendo em vista que nem todos que frequentam o movimento possuem boas intenções e ocasionam tumultos. Entretanto, no intuito de manter a ordem nesses locais, os administradores acabaram passando por segregadores e a questão ganhou face sociopolítica, o que é um grande equívoco.

Aline Santos – Canoas (RS)

Eu penso que esses rolezinhos são atos de marginais, portanto, devem ser tratados como tal. O Brasil está muito mal no que diz respeito à segurança pública. É muito diálogo, bandidos tratados como vítimas, vítimas tratadas como números estatísticos. Esses rolezinhos devem ser tratados de acordo com o Código Penal, o diálogo deve ficar para pais e filhos, pois não tem cabimento as autoridades “dialogarem” com marginais, porque, enquanto houver esse tipo de “diálogo”, a sociedade paga um preço caro.

Jorge Pio de Almeida – Porto Alegre (RS)

Nunca ouvi dizer que se tem diálogo com marginal! Querem lazer, vão trabalhar e conquistar esse direito!

Isso é medo? Quando forem fazer um “rolezinho” na Redação da ZH, chamem eles para o diálogo. Não foi o que aconteceu no ano passado: chamaram correndo a Brigada para dialogar. Ou estou inventando?

Outros comentários de leitores sobre o editorial desta página estão em zerohora.com/opiniaozh



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