Justiça
INTIMIDAÇÃO
JUDITH BRITO é presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ). O GLOBO, 06/09/2011 às 17h57mLevantamento recente divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça mostra que existem hoje no Brasil 134 juízes sob ameaça de morte ou violência. O brutal assassinato da juíza Patrícia Acioli, que chocou o país, foi uma prova contundente do risco real em que vivem os magistrados cumpridores de sua missão de promover a justiça.
Também recentemente a Associação Nacional de Jornais tornou público o seu Relatório de Liberdade de Imprensa, que revela o assassinato de cinco jornalistas nos últimos 12 meses, em decorrência de sua atividade profissional. No mesmo período, ocorreram pelo menos sete casos de agressões físicas a jornalistas no exercício da profissão.
Como se vê, no Brasil, dois dos mais importantes contrapesos de uma sociedade democrática - o Poder Judiciário e a Imprensa - sofrem igualmente diante daqueles que pretendem impedir, a qualquer custo, a busca da justiça, a apuração de crimes, a transparência, a circulação das informações.
Quando um magistrado é ameaçado e até mesmo morto, os criminosos mandam um claro aviso, buscando intimidar o Poder Judiciário. Parecido com o que ocorre quando jornalistas são ameaçados, agredidos e mortos. Neste caso, pretende-se amedrontar quem tem como missão desvendar o que está oculto, impedir que determinados fatos cheguem ao conhecimento das pessoas.
A violência contra juízes e jornalistas tem como principal combustível a impunidade. Criminosos ameaçam e até matam juízes e jornalistas por entender que dificilmente serão identificados e punidos. É mais uma grave falha do aparelho repressor do Estado brasileiro, que se mostra incompetente para proteger a sociedade de uma forma geral, em todos os seus setores, em todos os seus níveis.
No caso de juízes e jornalistas, o agravante está no fato de que a intimidação atinge também a essência da sociedade democrática. Juízes atuantes e destemidos são pressuposto para o permanente esforço de justiça que se deve buscar, assim como o livre trânsito de informações só acontece com o trabalho intenso dos jornalistas, sem sombras de ameaça.
O Relatório de Liberdade de Imprensa da ANJ mostra que os cinco assassinatos de jornalistas registrados nos últimos 12 meses aconteceram no interior do país, mas é um engano supor que essa violência seja exclusiva de grotões sob domínio de um coronelismo tardio. Poderiam ter acontecido em grandes cidades, como já aconteceu e foi também registrado pela ANJ em outros períodos. Da mesma forma que o assassinato da juíza Patrícia ocorreu em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro.
Não podemos permitir que em nosso país se repita o que já se viu na Colômbia, com juízes escondendo-se atrás de máscaras ao comandar julgamentos e proferir sentenças, temerosos de futuras represálias dos criminosos. Ou aceitar o que ocorre hoje no México, onde a imprensa se cala diante da ação dos narcotraficantes que tanto mal impõem à sociedade daquele país.
Os números divulgados pelo CNJ e a ANJ mostram que no Brasil a situação extrapolou, e muito, a normalidade. É preciso reagir, mostrar que a sociedade não aceita a intimidação a quem tem papel tão essencial na democracia. Cabe ao Estado - por meio do próprio Poder Judiciário, do Ministério Público e da Polícia - impedir que a situação fuja do controle.
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