Justiça
HOOLIGANS DRIBLAM E DEBOCHAM DA JUSTIÇA RS
ZERO HORA 19 de março de 2013 | N° 17376
DRIBLE NA JUSTIÇA - PARTE 2
O DEBOCHE DOS BRIGÕES DE ESTÁDIO
O homem que pula uma catraca da Arena na imagem ao lado, indiferente ao clamor dos funcionários, é Paulo Roberto Rodrigues Oliveira – um dos 31 gremistas proibidos pela Justiça de frequentar estádios.
Envolvidos na pancadaria que antecedeu o jogo entre Grêmio e Canoas, em 24 de janeiro, Paulo Roberto e os demais infratores deveriam se apresentar em postos policiais sempre que seu time jogasse em Porto Alegre. Mas, já na semana seguinte ao tumulto, quando o Grêmio enfrentaria a LDU na primeira partida com entrada proibida para os brigões, Paulo Roberto foi à Arena. Como se não bastasse, invadiu o estádio sem pagar ingresso. E foi flagrado pelas câmeras de vigilância.
Esse desdém às autoridades – somado à guerra pelo comando da Geral, principal torcida organizada do Grêmio – provoca episódios frequentes de brutalidade em dias de jogos. Conhecido como Molejo, Paulo Roberto é um dos principais companheiros de Cristiano Roballo Brum, o Zóio, número 2 na hierarquia da Geral que tenta derrubar o líder maior da torcida, Rodrigo Rysdyk, o Alemão.
Foi essa rivalidade que deflagrou a série de quebra-quebras iniciada na inauguração da Arena, em dezembro passado, e desdobrada antes do jogo do Grêmio contra o Canoas, no mês seguinte. Na partida contra a LDU, Paulo Roberto, o Molejo, foi detido por PMs após pular a catraca da Arena. Uma ocorrência por conduta inconveniente e desobediência foi registrada – mas, como os delitos são de baixo potencial ofensivo, ele foi logo liberado.
– Não tenho nada a declarar sobre isso – disse o infrator a Zero Hora.
Mesmo depois do flagrante, em apenas um dos cinco jogos seguintes do Grêmio em Porto Alegre Molejo cumpriu a ordem judicial de se apresentar no 1º Batalhão de Polícia Militar.
Passado um mês e meio do tumulto antes do jogo entre Grêmio e Canoas, no Estádio Olímpico, nada menos que 27 dos 31 torcedores proibidos de frequentar partidas ignoram a determinação da Justiça.
Contrariada com o histórico de impunidade que conforta os brigões – eles devem se apresentar à polícia por pelo menos seis meses, sempre que o Grêmio jogar em Porto Alegre, mas apenas quatro obedecem –, a juíza Lisiane Barbosa Carvalho, do 1º Juizado Especial Criminal (Jecrim), notificou os torcedores neste mês: quem continuar descumprindo a medida pode acabar preso.
Entre os probidos de entrar nos jogos, há casos quase tão grotescos como o da foto acima, em que Paulo Roberto Rodrigues Oliveira, não contente em desprezar a Justiça, ainda pula uma catraca da Arena para invadir o estádio. Um exemplo é Douglas Oliveira, integrante da torcida Máfia Tricolor que cumpre prisão domiciliar por roubo. Portanto, ele está proibido de sair de casa à noite – o que não o impediu de se envolver na briga de 24 de janeiro, quando o Grêmio enfrentou o Canoas às 19h30min.
– Sim, eu deveria mesmo estar em casa. Mas tenho cumprido minha pena normalmente. Foi um caso isolado – afirmou Douglas a ZH.
Nos seis jogos depois da briga, em nenhum deles Douglas compareceu à 2ª Delegacia da Polícia Cívil de Porto Alegre, conforme ordenou a Justiça. Segundo ele, a carga horária no açougue onde trabalha o impossibilita de cumprir a medida. Douglas garante que, no dia do tumulto, os seis torcedores da Máfia Tricolor detidos pela Brigada Militar apenas “se defenderam” de um ataque.
Houve duas brigas naquela ocasião: a primeira envolveu a Máfia e a ala da Geral liderada por Cristiano Roballo Brum, o Zóio – homem que liderou a pancadaria na inauguração da Arena em dezembro, atualmente também proibido de frequentar partidas. O segundo tumulto, bem maior, foi mais um confronto entre os dois grupos que guerreiam pelo comando da Geral. Naquele mesmo mês, Zóio teria invadido e depredado a casa de Alemão, seu principal inimigo, conforme ocorrência registrada pelo último.
O número de brigões se apresentando à polícia no horário dos jogos é tão minguado que a juíza Lisiane, do 1º Jecrim, ameaçou levar 25 deles à prisão por “desobediência à ordem judicial” caso a indiferença prossiga. Em seu despacho, ela se mostrou intolerante com infratores que tentam apagar faltas apresentando justificativas pouco convincentes. A magistrada classificou como “esdrúxula” a alegação de Carlos Augusto Caloghero, que é conselheiro do Grêmio e aliado de Alemão – sim, a Geral já conseguiu eleger sete conselheiros –, que afirmou em documento ser dono de um bar, sempre aberto em dias de jogos.
De acordo com a juíza, se ele precisa ficar no bar, como foi ao jogo no dia da briga?
JOSÉ LUÍS COSTA E PAULO GERMANO
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