Justiça
ESPÍRITO DE CONFRONTO
ZERO HORA 05 de fevereiro de 2014 | N° 17695
EDITORIAIS
Enquanto os porto-alegrenses enfrentavam mais um dia de transtornos no trânsito e no deslocamento para seus compromissos, o Tribunal Regional do Trabalho, representado pela incansável desembargadora Ana Luiza Heineck Kruse, empreendia esforços para encerrar da maneira mais judiciosa possível a complexa greve dos rodoviários da Capital. Mas, infelizmente, as boas intenções esbarraram na resistência dos trabalhadores em relação à oferta patronal. A assembleia geral dos rodoviários rejeitou o acordo e optou por manter a greve por tempo indeterminado. Em consequência, os empresários já cogitam demissões por justa causa e a prefeitura tenta ampliar a oferta de transporte alternativo, com um pedido à Metroplan para que os ônibus metropolitanos transportem passageiros das linhas municipais.
Percebe-se, nas reações de ambas as partes, o crescimento de um indesejável espírito de confronto, que só tende a elevar os danos da paralisação. Ao suspender totalmente a circulação de ônibus, desrespeitando a legislação dos serviços essenciais e a decisão judicial, os rodoviários colocaram em xeque o poder das instituições e da própria Justiça. Com a depredação dos veículos que tentaram sair das garagens nos primeiros dias do movimento, os grevistas começaram a perder o apoio da população. E o sentimento de revolta foi crescendo na relação direta com as dificuldades encontradas pelas pessoas para se deslocar pela cidade. Ao atingir seu nono dia, a paralisação já causa prejuízos irreparáveis e provoca uma torrente de indignação na população.
É evidente que os trabalhadores têm o direito de reivindicar salários e condições de trabalho dignos. Ninguém, numa democracia, pode rejeitar a greve como instrumento válido e até apropriado para determinadas reivindicações. O que não se pode entender – nem aceitar – é que uma categoria transforme a população inteira de uma Capital em refém de suas demandas, e muito menos que alguns de seus integrantes apelem para a violência e para a depredação. Em consequência, cresce também a pressão de setores mais intransigentes para que a Brigada Militar garanta a circulação dos ônibus, protegendo-os dos piquetes.
Espera-se que tal não ocorra. Ainda há margem para negociação – e o TRT manteve esta garantia ao ouvir ontem as novas reivindicações do Sindicato dos Rodoviários. Mas a busca de uma solução se torna cada vez mais urgente, pois a população não pode continuar sendo sacrificada pelo radicalismo de quem vai para reuniões e assembleias movido apenas pelo espírito de confronto.
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