REVISTA VEJA 29/10/2014 às 10:08
RODRIGO CONSTANTINO Gramsci Lenin queria uma revolução comunista pelas armas, para impor a “ditadura do proletário” (na verdade, da elite em nome do proletário). Mas Gramsci, o fundador do Partido Comunista Italiano, acreditava que essa tática belicosa não daria certo no Ocidente. Era preciso comer pelas beiradas, dominar a cultura, destruir a democracia de dentro dela.
Muitos repetem hoje a frase do marqueteiro de Bill Clinton, alegando que “é a economia, estúpido”. Mas será que é mesmo? A economia esse ano simplesmente não cresceu nada, e a inflação seguiu em alta. Mesmo assim Dilma venceu. Podemos considerar uma possível fraude e o voto de cabresto, mas mesmo assim ela teve milhões de votos Brasil afora. Por quê?
De forma bem resumida: Gramsci. O empresário Gastão Reis Rodrigues Pereira publicou um excelente artigo hoje no Estadão resumindo o que pregava o ideólogo comunista. Dá uma boa ideia de como chegamos até aqui. Isso foi abordado em meu livro Esquerda Caviar também, tamanha a importância que dou ao assunto. Segue um trecho:
Onde as ditaduras socialistas não vingaram, restou a opção da tomada de baixo para cima desses veículos. A revolução de Gramsci, o comunista italiano que arquitetou a estratégia de poder por meio da própria democracia, poderia dispensar as armas se fosse bem-sucedida na infiltração em escolas, universidades, redações, igreja e televisão. Sua revolução cultural seria mais silenciosa e, portanto, mais perigosa, pois menos perceptível.
Vale a pena dedicar alguns parágrafos a esta figura sombria, uma vez que as estratégias traçadas em seus Cadernos do cárcere têm tudo a ver com a postura da esquerda caviar atualmente, e com esse viés da imprensa.
Nascido na Itália em 1891, Antônio Gramsci foi um marxista intelectual membro do Partido Socialista Italiano. Gramsci era um simpatizante da revolução bolchevique de 1917, e foi um dos fundadores do Partido Comunista Italiano. Preso pelo regime fascista de Mussolini, começou a escrever notas na prisão.
O tema central de seus escritos consistiria na formulação de uma estratégia de tomada do poder, distinta do modelo leninista. Para Gramsci, o “assalto ao poder” de Lênin não seria o método adequado nos países ocidentais. A estratégia gramscista de transição para o socialismo contaria com aspectos mais graduais, infiltrando-se e influindo na cultura, e alterando-a para permitir a conquista final do poder pelas classes subalternas. Esta tem sido a receita praticada na América Latina nas últimas décadas, com resultados claramente positivos do ponto de vista dos marxistas.
O general Sérgio Augusto de Avellar Coutinho, já falecido, escreveu o livro A revolução gramscista no ocidente, que faz um didático resumo da concepção revolucionária de Gramsci. Nela, o grupo dirigente seria justamente aquele que tem a hegemonia, ou seja, “que tem capacidade de influir e de orientar a ação política, sem uso da coerção”. O que torna a estratégia gramscista tão perigosa é exatamente o fato de trabalhar por apodrecer os pilares democráticos de dentro da própria democracia, subvertendo seus valores e corroendo esses fundamentos.
Os gramscistas falam em “democracia radical” ou “radicalismo democrático” para se referir a tal modelo. Essa deturpação da ideia de democracia é útil para a causa socialista, pois permite que se fale em “socialismo democrático”, distanciando-se, no imaginário popular, do regime ditatorial adotado na União Soviética. Isso garante o respaldo de legalidade, evitando assim eventuais resistências e reações da sociedade.
Na estratégia gramscista, o papel dos intelectuais orgânicos é crucial. O novo intelectual não é apenas um orador eloquente, mas um dirigente que orienta, influencia e conscientiza as massas. O grupo de luta deve também batalhar pela assimilação e conquista ideológica dos intelectuais tradicionais. Estes terão participação consciente ou inconsciente, podendo assumir o papel de intelectual orgânico por convencimento e adesão, ou por ingenuidade, acomodação ou até capitulação.
Para Gramsci, todos os membros do partido, em todos os níveis, são intelectuais. Devem realizar na sociedade civil uma profunda transformação política e cultural, “amestrando” as classes burguesas também, levando-as a aceitar as mudanças intelectuais e morais como parte de uma natural e moderna evolução. Para tanto, contam com o apoio dos organismos privados, como sindicatos e organizações não-governamentais. E da imprensa, claro.
Portanto, caros leitores, se desejamos nos livrar de vez do PT e do bolivarianismo – e toda gente decente deseja isso – será preciso lutar no campo cultural. Sem mudar a mentalidade das pessoas e sem impedir o avanço dos “intelectuais orgânicos”, essa cambada de doutrinadores que desde a escola já manipula as frágeis cabeças das crianças, não será possível superar e enterrar essa seita esquerdista, colocando-a em seu devido lugar, que é o lixo da história.
Rodrigo Constantino
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