DITADURA COM LIBERDADE
Justiça

DITADURA COM LIBERDADE


O título pode parecer paradoxal, mas na realidade não o é. Vejamos. Imaginemos a partidarização de um estado pelas diversas formas possíveis. Comecemos por uma sólida e dócil maioria no Parlamento. Isso se conseguiria dando cargos de confiança do Executivo a familiares dos parlamentares e, a estes, talvez uma mensalidade generosa, fazendo empréstimos bancários polpudos para órgãos de imprensa, facilitando o lucro dos bancos, permitindo que cobrem cerca de 8% ao mês nos cheques especiais e paguem 0,65% na poupança, criando muitos cargos de confiança e seus titulares pagando percentual dos vencimentos para partido do governo que, com isso, adquiriria poder (de convencimento) sobre os mais rebeldes.

Tudo isso proporcionaria um rolo compressor. Evidente que não poderia haver atritos com o Poder Judiciário e as Forças Armadas e, para isso, precisaria estar atento às suas reivindicações. Acredito que um país que fizesse isso, poderia constituir um governo poderoso com aplausos da imprensa e, por consequência, do povo. Se houvesse outros problemas como na saúde, na segurança e até de corrupção, estes precisariam ser abafados por pomposas inaugurações de obras que agradassem ao povo fazendo-o crer que os problemas referidos são iguais aos de todo o mundo. Haveria, enfim, uma ditadura para governar com liberdade para falar.

Aqui no Brasil já houve ditadura com sorriso e ditadura com carranca. Na primeira, o ditador era popular, sorria de maneira simpática e invariavelmente começava seus discursos com a expressão “Trabalhadores do Brasil!”. A outra ditadura foi diferente: trocava de ditador, mas a carranca continuava e a frase escolhida era: “Brasil, ame-o ou deixe-o!”.

Convenhamos: a de carranca é mais fácil de derrubar. Basta dizer que o ditador popular, apeado do poder por força de um golpe militar, se elegeu Presidente da Republica, foi levado ao suicídio pela oposição e também por elementos que o cercavam. O país parou. O povo chorou. Os ditadores que se revezaram no poder, quando morreram, tiveram modestas cerimônias fúnebres e o povo parecia nem tomar conhecimento delas. O fato é que, com carranca ou com sorriso, nenhuma ditadura presta.

Jauri G. de Oliveira é ex-deputado e ex-prefeito de São Luiz Gonzaga. A Notícia de São Luiz Gonzaga/RS - 02/05/2011



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