BANQUETE OU XIS RÁPIDO?
Justiça

BANQUETE OU XIS RÁPIDO?





ZERO HORA 25 de maio de 2014 | N° 17807 ARTIGOS

por Flávio Tavares*

O velho ditado de que “a Justiça tarda, mas não falha” foi atropelado sete dias atrás por um inesperado acidente de percurso. No domingo 18 de maio, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki mandou suspender os processos judiciais da Operação Lava-Jato e libertar os 12 réus implicados em fraudes, lavagem de dinheiro e tráfico de cocaína – um crime articulado que envolve bilhões de reais. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, núcleo da trapaça, foi libertado de imediato. Os demais só não foram soltos porque o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, alertou sobre o “risco de fuga” dos réus bilionários. O ministro voltou atrás, então, e manteve a prisão.

Mas os processos estão suspensos. O que talvez seja o maior esquema criminoso montado no país envolve três deputados federais (com “foro privilegiado”) e, assim, Zavascki avocou para si a avaliação de tudo, que passará ao STF. Aqui, no entanto (diferente do “mensalão”), os deputados apareceram por acaso no inquérito. Ao investigar “doleiros” e narcotraficantes, a Polícia Federal encontrou os três cúmplices “graúdos”.

Deveria paralisar o inquérito ou prosseguir?

Num país em que as decisões judiciais se arrastam por meses e anos, surpreende a velocidade de campeão olímpico da decisão que suspendeu a investigação e as prisões.

Uma pesquisa dos professores Ivar Hartmann, Joaquim Falcão e Vítor Chaves, da Fundação Getulio Vargas (citada pelo jornal O Globo, do Rio), mostra a morosidade do STF: em média, o tribunal demora cinco anos para julgar, em definitivo, as liminares de ações de inconstitucionalidade. Num caso iniciado em 1989, o STF levou 24 anos para concluir, em 2013, que nada era da sua competência... Agora, num plantão de domingo, o ministro atendeu o pedido do diretor da Petrobras, que invocou o fato de seus cúmplices serem deputados para qualificar a investigação de “ilegal”.

Em teoria, Zavascki foi zeloso. Quis evitar que o trio de agora ficasse tão impune quanto o deputado José Otávio Germano, do PP, implicado no desvio de R$ 44 milhões do Detran-RS, mas excluído da denúncia por ter sido investigado pela Polícia Federal como um comum mortal, não como parlamentar de “foro privilegiado”. Os plantões de domingo nos tribunais atendem casos urgentes e flagrantes de ilegalidades que firam a dignidade de presos ou acusados. Não foi assim, porém, na Operação Lava-Jato, em mãos de um juiz experiente e sem manchas, que investigava rede criminosa que se banqueteou com bilhões de reais.

Banquete assim pode ser tratado como refeição rápida, como o popular “xis” com maionese artificial? Ou devemos ir ao “x” da questão, para que a Justiça veloz não seja falha?

Deve o formalismo da lei pairar acima do perigo do crime em si?



*JORNALISTA E ESCRITOR



loading...

- A JustiÇa Se Corrige
ZERO HORA 24 de março de 2016 | N° 18481 EDITORIAIS Ao identificar excessos cometidos pelo juiz Sergio Moro na retirada do sigilo sobre gravações telefônicas obtidas no âmbito da Operação Lava-Jato, o ministro Teori Zavascki determinou o envio...

- Um Juiz Impedido De Sentenciar
ZERO HORA 24 de julho de 2015 | N° 18236 HUMBERTO TREZZI POLÍTICA ESCÂNDALO DA PETROBRAS Defensores dos acusados da Lava-Jato estão contentes. Pela primeira vez desde que a sequência impressionante de prisões ligadas à corrupção na Petrobras...

- Agora É Com Eles
REVISTA ÉPOCA, 06/03/2015 22h54 O procurador Rodrigo Janot não acusou apenas os políticos do petrolão. Acusou o sistema de financiamento de campanhas do Brasil. Agora, cabe ao Supremo definir como prosseguir num enredo essencial do aperfeiçoamento...

- Juiz Do Processo Que Apura CorrupÇÃo Na Petrobras
ZERO HORA 18/10/2014 | 17h02 Quem é o juiz que cuida dos processos que expôs esquema de corrupção na Petrobras com partidos. Magistrado com atuação polêmica, o paranaense Sergio Moro, 42 anos, é reconhecido como técnico, centrado, linha-dura...

- Stf Recua E MantÉm Na PrisÃo Suspeitos Do Lava-jato
ZERO HORA 21 de maio de 2014 | N° 17803 POLÍTICA. STF recua e mantém 11 suspeitos na prisão AO REVERTER DECISÃO de determinar a libertação de envolvidos emsuposto esquema de lavagem de dinheiro, ministro admite risco de fuga Menos de 24...



Justiça








.