A MÁFIA DO JOGO - INTERNET LEVE O PERIGO PARA DENTRO DE CASA
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A MÁFIA DO JOGO - INTERNET LEVE O PERIGO PARA DENTRO DE CASA


HOJE EM TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO, ESTUDANTE DE 18 ANOS TENTOU ARROMBAR O ESCRITÓRIO DO PAI - ZERO HORA 10/05/2011

Ao chegar em casa, um empresário de 35 anos da Região Metropolitana encontrou a fechadura do escritório com sinais de ter sido forçada. Não teve dúvida sobre o responsável. Apanhou pelo cangote o filho, de 18 anos:

– Cara, o que tu estás fazendo? Não dou mais conta!

O adolescente havia tentado arrombar a casa do pai empurrado pela fissura de um vício. O que ele buscava no escritório era uma droga contra a qual não tinha forças para resistir: um computador com acesso à internet. Seu vício era o dos videogames online, epidemia que se alastra debaixo do nariz de pais e mães. Um levantamento do ano passado revela que há 600 milhões desses jogadores no mundo, a maior parte na faixa dos 10 aos 15 anos. Uma parcela desenvolve dependência.

– É silenciosa, não deixa nenhum sinal, não produz cheiros – observa o psiquiatra Daniel Spritzer, do Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas.

O jovem que tentou arrombar o escritório integra uma geração que nasceu plugada. Mexe em computadores desde os quatro anos. Criado pela mãe em outro Estado, veio morar com o pai em 2005 e revelou o descontrole: ligado no jogo, deixava de estudar, de fazer tarefas, de tomar banho. Quando o empresário tentou estabelecer limites, o garoto passou a jogar escondido.

– Dizia que estava na casa de amigos e ia para lan houses. Eu telefonava para esses amigos e eles diziam que meu filho havia saído horas antes – diz.

As pressões do pai levaram o adolescente a voltar para a casa da mãe. Em 2009, ele próprio reconheceu estar fora de controle e retornou ao Rio Grande do Sul, esperando entrar nos trilhos. O gatilho para a decisão foi a reprovação no 1° ano do Ensino Médio, causada por jornadas diárias de até 18 horas jogando:

– Comecei a me prejudicar na 5ª série. Na 8ª, estava jogando sete horas por dia. Matava muita aula.

Na Grande Porto Alegre, ele não conseguiu seguir as regras definidas com o pai – como jogar apenas duas horas por dia. Ao voltar de uma viagem de fim de semana, o empresário encontrou a casa emporcalhada com excrementos de cachorro, a geladeira intocada e o filho imundo, usando a mesma roupa com que o deixara. Era visível que não fizera outra coisa além de jogar. No fim de 2009, desgastado pelo conflito, o pai teve tremores e palpitação. Foi internado. O diagnóstico: estresse.

O episódio da fechadura foi a gota d’água. O adolescente reconheceu o vício e aceitou ajuda. Começou acompanhamento psiquiátrico, iniciou medicação para ansiedade e ingressou nos Jogadores Anônimos. No final de março, o pai deixou-o pela primeira vez sozinho e viajou seis dias. Ao retornar, percebeu a recaída.

– Vinha querendo dar mais autonomia a ele, mas vou ter de regredir no processo, com mais restrições. Se sair, levo o modem comigo. O perigo é constante.

Para o rapaz, a única diferença na comparação com amigos e colegas é ter reconhecido a dependência:

– Conheço milhares com o problema. É o mal do século. Acham que o filho está seguro dentro de casa, mas é um engano. Tem muito jovem precisando de ajuda.

No mundo

Estados Unidos – Inspirada nos Alcóolicos Anônimos, foi criado em 2002 o Jogadores Online Anônimos, que oferece um programa de suporte e recuperação em 12 passos. O grupo foi fundado por uma mãe cujo filho cometeu suicídio enquanto jogava. Em um episódio de 2004, um homem de 24 anos confessou ter esquecido em uma banheira, onde morreram afogados, seus gêmeos de 10 meses. O pai se afastou para jogar.

China – Em 2007, foi registrada em Jinzhou a morte de um rapaz que ficou 15 dias seguidos jogando no computador. No mesmo ano, em Guangzhou, uma homem de 30 anos teria morrido depois de jogar três dias sem parar. Dois anos antes, um garoto de 13 anos atirou-se do topo de um prédio de 24 andares e deixou um bilhete dizendo que iria se reunir no céu com companheiros de jogo virtual.

Coreia do Sul – Em 2005, em Taegu, um dependente de games morreu em um internet café ao ter uma parada cardíaca depois de jogar por cerca de 50 horas. Ele já havia perdido a namorada e o emprego por jogar demais. No ano passado, um bebê de três meses morrreu de desnutrição porque seus pais passava horas criando um filho virtual em um jogo online.

Vietnã – Um garoto de 13 anos foi preso por ter matado e assaltado uma idosa de 81 anos. Ele contou ter cometido o crime como forma de obter dinheiro para jogar online.



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